O governo Federal deverá criar a Empresa Brasileira de Ciência e Tecnologia Industrial – Embratec, uma análoga da Embrapa voltada para a tecnologia industrial. O Ministro Aloizio Mercadante anunciou essa intenção recentemente na visita da presidente Dilma Rousseff à China, na feira de tecnologia de Hannover e no Congresso Nacional. A criação da Embratec foi proposta no livro Ciência para um Brasil Competitivo – o papel da Física (Capes 2007), fruto de um estudo encomendado pela Capes a um grupo de físicos ligados à Sociedade Brasileira de Física. Foi enfaticamente apoiada pela SBPC, pela Academia Brasileira de Ciências e por eminentes empresários industriais.
A idéia obviamente se inspira na história emblemática da Embrapa – criada em 1973. Até a criação da Embrapa, o Brasil insistia em importar e adaptar práticas agrícolas impróprias para nosso clima e nosso solo, e a produção permanecia estagnada, apesar de generosos subsídios governamentais. Hoje nossa técnica agropecuária é a que avança mais rapidamente em todo o mundo. Os resultados do trabalho da Embrapa não tardaram em aparecer. Já em 1978, por meio do programa Polocentro, havíamos desenvolvido técnicas capazes de transformar o cerrado (que na poética de Guimarães Rosa, “é só pra fazer lonjura”) em terras altamente produtivas, o que rendeu o World Food Prize a Edson Lobato (agrônomo da Embrapa) e Alysson Paulinelli, Ministro da Agricultura promotor do Polocentro. Hoje, o cerrado brasileiro é a maior fronteira agrícola do mundo.
A Embratec pode ter na indústria brasileira um efeito similar ao da Embrapa, embora a diversidade das técnicas industriais seja maior e o seu desenvolvimento seja mais desafiador. Sua missão presumível será identificar e resolver os principais gargalos tecnológicos defrontados pela indústria brasileira e franquear as técnicas desenvolvidas para uso dentro do país. Há um complicador político: distintamente das técnicas agrícolas, muitas técnicas industriais são de interesse de um número reduzido de empresas. Para evitar o favorecimento de setores industriais restritos que não sejam estratégicos para o País, o projeto de criação da Embratec deve incluir arranjos capazes de lidar com tais situações. O uso de recursos dos Fundos Setoriais para desenvolvimento de técnicas para os respectivos setores e a realização de pesquisa feita sob encomenda, paga pelo menos em parte, são exemplos de arranjos que ocorrem prontamente.
O Brasil ainda não conta com a massa de cientistas e engenheiros necessários para que desenvolvamos tecnologias diversificadas e de fronteira. Para superar esse embaraço, mais uma vez o exemplo da Embrapa é útil e válido. Nos seus primeiros anos, a Embrapa concedeu 1300 bolsas para estudos pós-graduados no exterior. O mesmo deveria ser feito pela Embratec. Um grande número de cientistas e principalmente de engenheiros precisa ser enviado ao exterior para formação pós-graduada em áreas eleitas como prioritárias.
Nesse momento, é muito importante que a comunidade de cientistas e engenheiros pesquisadores brasileiros se movimente para apoiar politicamente a iniciativa do governo e também se disponibilize para colaborar no trabalho desafiador de projetar a Embratec.
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