Observações de cerca de 200 mil galáxias resultam no estudo mais completo sobre a energia escura. Os dados endossam ideias de Einstein de que existe uma força no espaço agindo contra a gravidade, embora o físico a tenha postulado com outro universo em mente.
Astrônomos australianos, em parceria com a Nasa – agência espacial dos Estados Unidos –, acabam de anunciar que é muito provável que um tipo de antigravidade, conhecida como energia escura, exista e seja a responsável pela expansão acelerada do universo.
A conclusão é fruto do trabalho de 26 pesquisadores do projeto The WiggleZ Survey que, por cinco anos, vasculharam o céu com o Telescópio Anglo-Australiano à procura de dados sobre a natureza da energia escura, uma espécie de força invisível e misteriosa que responderia por 73% de toda a energia contida no universo.
“Nosso trabalho oferece as melhores provas independentes de que a energia escura é real”, afirma o líder do estudo, o astrônomo Chris Blake, da Universidade Swinburne de Tecnologia, na Austrália. “Einstein estava certo, realmente existe uma força antigravitacional”, ressalta o pesquisador, acrescentando que ela está provocando a expansão acelerada do universo.
Na década de 1910, o físico alemão Albert Einstein (1879-1955) postulou a existência de um tipo de força antigravitacional, mas não foi para provar a expansão do universo. Na verdade, Einstein estava convicto de que o universo era estático. Para isso, era preciso haver uma força que repelia os corpos e se equilibrava com a força da gravidade, fechando as contas para um universo ‘parado’. Assim, ele inseriu em suas equações a antigravidade, batizada em seguida de “constante cosmológica”.
Mesmo com a descoberta de que o universo se expande, feita pelo astrônomo estadunidense Edwin Hubble (1889-1953), em 1929, a antigravidade não foi invalidada, embora tenha sido deixada de lado – o próprio Einstein chegou a dizer que ela havia sido “o maior erro científico de sua vida”.
Anos depois, esse conceito ganhou o nome de energia escura e voltou ao cenário da física com o estudo de um grupo internacional de astrônomos em 1998. Na época, os cientistas descobriram que o universo não só se expandia, mas também o fazia de forma acelerada. Para explicar esse fenômeno, recorreram justamente à força antigravitacional de Einstein.
Olhando para o passado
Para provar o efeito da energia escura, os pesquisadores do The WiggleZ Survey criaram o mais completo mapa tridimensional já feito das galáxias, com a ajuda do satélite Galex, da Nasa. As galáxias observadas estão tão distantes da Terra que a luz que emitem revela uma história de sete bilhões de anos atrás, tempo que os raios luminosos levam para chegar até nós.
Com um espectrógrafo acoplado ao telescópio Anglo-Australiano, os astrônomos capturaram a luz emitida pelas galáxias. Esses dados foram usados para medir a distância entre elas e a velocidade com que se afastam da Terra.
O padrão de distribuição dessas estruturas e a velocidade de distanciamento revelaram que elas estão cada vez mais separadas entre si, o que sustenta a ideia de que há uma energia repelente que atua contra a força de atração da gravidade.
A ilustração mostra como os astrônomos mediram a expansão do universo. A luz emitida pelas galáxias das regiões mais remotas do espaço foi usada para medir as distâncias entre elas e determinar a velocidade com que se afastam umas das outras. (imagem: R. Hurt/ Nasa - JPL-Caltech)Os pesquisadores verificaram que os resultados obtidos coincidem com o modelo cosmológico clássico que incorpora a energia escura.
“Embora a gente ainda não conheça a origem da energia escura e o porquê de ela preencher o espaço, nosso trabalho motiva novos esforços de compreensão desse material”, afirma Blake.
Mesmo com o grande esforço e entusiasmo dos pesquisadores, que coletaram uma quantidade de dados sem precedentes, ainda não é possível afirmar categoricamente que a energia escura é real. Segundo o próprio astrônomo líder do estudo, é admissível que fatores como a poeira estelar tenham afetado os resultados da análise da luz emitida pelas galáxias.
De qualquer forma, o trabalho de Blake não termina por aqui. O pesquisador e sua equipe planejam continuar o mapeamento do universo até chegar a evidências da época de sua origem, há aproximadamente 13 bilhões de anos.
Segundo o astrônomo, o estudo da energia escura pode ainda ajudar a desvendar um dos grandes mistérios da física, que tenta explicar por que a mecânica quântica pode ser usada para descrever as quatro forças conhecidas – nuclear forte e fraca, eletromagnética e gravitacional –, exceto a última.
“O que há de errado com a gravidade?”, indaga. “Nós não sabemos, mas uma pista pode estar na observação da energia escura.”
fonte(ciencia hoje)
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